Os desafios de ser LGBTQIA+ no Brasil.

Imagem: Robson Souza

Texto escrito por: Robson Souza.

Neste mês em que devíamos comemorar o orgulho e a diversidade, infelizmente temos avanços pontuais dentro do movimento e a certeza de uma grande batalha pela frente. Queremos amar sim, mas para que isso seja possível o Estado brasileiro tem a obrigação de garantir que nossas vidas sejam preservadas.

Viver e sobretudo viver com dignidade, tem sido o nosso maior proposito, objetivo um tanto “ambicioso”, principalmente por estamos falando de um país que aparentemente se acostumou com o extermínio dos povos originários, com o genocídio do povo negro, e pela matança sistemática de mulheres por todo o território vítimas de feminicídio.

Com a população LGBTQIA+ não tem sido diferente e o Brasil tem liderado um ranking extremamente preocupante. Somos atualmente o país mais violento e que mais mata pessoas lgbt´s no mundo. É no mínimo curioso que este seja um fato mais do que concreto, num país que tenta vender uma imagem de um povo pacifico que goza de plenas liberdades e de uma ampla democracia.

Os esforços em tentar provar a legitimidade das nossas identidades sexuais e de localizá-las no tempo, tem lá sua importância, mas queremos viver agora e para isso temos um pretenso modelo de democracia e uma constituição que teoricamente deviam nos resguardar. Toda violência e negação da nossa existência não são meras falhas de uma sociedade democrática, são a própria negação da democracia e constitui elemento fundamental para exigirmos sua ampliação.

Portanto, se as noções e ideais de democracia devem servir como norteadora daquilo que pensamos e desejamos como sociedade, é necessário questionarmos seu funcionamento, apontando suas fragilidades e limites. Não existe democracia quando minorias sociais pagam com a própria vida ao ousarem existir e desafiar esta estrutura machista e patriarcal.

Queremos viver em plenitude, mas sem que isso represente risco de morte para nenhum de nós. Que o direito de ir e vir não fique restrito apenas ao papel e as formalidades das leis e que nossas identidades e expressões sexuais não nos tornem vítimas. São várias as demandas dentro do movimento e para que haja a possibilidade de mudanças efetivas, nosso direito à vida precisa ser garantido.

O que estou dizendo é que não basta somente pedir por “mais amor” ou reduzir nossas pautas a uma necessidade abstrata por representatividade, nossas reivindicações atravessam este clamor católico e burguês pelo direito de amar. Precisamos avançar e avançar significa estabelecer diálogos com todas aquelas letrinhas e sujeitos que compõe a sigla e entendermos quais são suas vulnerabilidades e demandas.

Avançar significa necessariamente deixar de banalizar a morte de tantas e tantos de nós, e de se debruçar com uma certa urgência em relação a expectativa de vida baixíssima de pessoas trans e travestis e de mover esforços num sentido de superar esta tragédia da qual infelizmente nos acostumamos.

Os desafios que se colocam são inúmeros, mas existem algumas saídas possíveis que devem ser exploradas. A educação é uma delas, e tem um papel fundamental no enfrentamento as desigualdades e hierarquias de gênero. É por meio de uma educação emancipadora que iremos construir uma sociedade mais justa e igualitária, na qual a diferença não seja um marcador para a morte.

A política institucional é outro campo a ser disputado e isso passa tanto pela escolha de representantes engajados com as nossas pautas, quanto por ocuparmos nós mesmos estes espaços de poder. As políticas públicas, quando colocadas em pratica, servem como instrumentos de redução das violências e desigualdades e de medida de enfrentamento de todo tipo de discriminações e lgbtfobia.

Por mais que estejamos exaustos, somos nós enquanto pessoas LGBTQIA+ que temos a obrigação de colaborar com a construção coletiva dessa luta. Somente quando ocupamos o papel de agentes ativos e transformadores é que o movimento se desloca criando possibilidades de novas saídas. Mas é preciso assumir nosso compromisso com estas mudanças.

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