Dois estranhos, e o genocídio de jovens negros.

Dois Estranhos | Site Oficial Netflix
Imagem: Site oficial Netflix.

Enquanto as coisas se organizam pro lado de cá, vou deixar uma dicazinha de filme que vale muito a pena, sobretudo pela maneira bastante objetiva e didática em que a obra trata o tema em questão. Eu acredito muito na potencialidade de levantar discussões de diferentes lugares e o quanto isso pode servir como instrumento pedagógico, então minha indicação de filme tem como objetivo nos fazer pensar.

O filme que está disponível na plataforma de streaming Netflix, tem o racismo como elemento central, e aborda mais especificamente, a violência policial contra jovens negros num contexto estadunidense. Tema que pode ser facilmente adaptado a nossa realidade, já que a violência brutal contra negras e negros, que em muitos casos terminam em tragédia, é algo que infelizmente tem se tornado bastante comum por aqui.

Passado o “susto” dos primeiros minutos, somos colocados diante de fatos que se repetem exaustivamente produzindo em nós espectadores, o mesmo desespero e cansaço sentidos pelo protagonista. O ciclo vicioso para além do desconforto que nos causa, traz à tona o que tem sido o fim trágico de muitas pessoas negras ao serem abordadas pela polícia. Ele, sou eu ao mesmo tempo que também é você.

Existem estimativas de que o assassinato de pessoas negras por parte de policiais representa hoje, cerca de 75% dos casos apurados, números que reforçam o quanto esta população é atualmente a mais vulnerável e mais violentada pela policia brasileira. A imensa desigualdade que se expressa pelos números apurados, indicam o caráter intrínseco do racismo profundo das nossas instituições.

Em relação as discussões levantadas após o filme sobre a banalização da morte de pessoas negras, eu realmente compreendo a necessidade de fugirmos de representações estereotipadas e de obras que nos veem de um único lugar. Mas me parece indispensável entender que o nosso ponto de partida tem sido desde sempre a violência e a dor, ainda que isto não nos defina.

A menos que você seja uma pessoa negra que tem a intenção de preservar sua saúde mental, a justificativa de não assistir o filme é aceitável. Para nós que vamos ver ou rever o filme, é importante dizer que a segurança que as telas nos proporcionam podem dificultar nossa percepção da gravidade do problema que se apresenta. O genocídio da juventude negra faz parte da organização deste país.

Se entendemos que o Estado brasileiro representado por nossa polícia, e que dispõe dos meios institucionais para dar continuidade nesse processo antigo de genocídio da população negra, combater o racismo exige esforços maiores do que apenas se dizer antirracista. Temos um problema de dimensão estrutural e isso significa que para interromper a morte sistemática de pessoas negras, precisamos parar esta instituição.

Compreender as complexidades do racismo prestando atenção ao que acontece no sistema prisional, nas políticas de combate as drogas, no encarceramento em massa que se forma no país e na constante violência policial contra pessoas negras, são partes desse processo. Vale dizer também que ser aliado contra o racismo, implica entre outras coisas, se comprometer com nossas demandas, consumir o que estamos produzindo, e se confrontar e de furar a bolha de ser antirracista em abstrato.

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